Depois do ciclista Lance Armstrong ter sido acusado de doping por dirigentes e jornalistas franceses, Jakob Morkenberg, investigador cientifico dinamarquês, também revelou hoje à televisão DR que o norte-americano "pode ter corrido o Tour sob o efeito de substâncias ilícitas".
O cientista analisou os padrões sanguíneos do ciclista, publicados na Internet, durante a Volta à França e detectou "uma anomalia curiosa".
Morkenberg, médico e analista no Hospital Bispebjerg, disse ainda que "os valores sanguíneos do atleta são praticamente os mesmos do início ao fim do Tour, contrariamente ao que costuma acontecer. Todos nós [cientistas] sabemos que o exercício físico intenso provoca um decréscimo dos valores sanguíneos e, durante o Tour, os valores de Armstrong mantiveram-se quase inalteráveis, o que é muito estranho".
Mais à frente, o investigador revelou que "durante o Giro, o hematócrito [percentagem de glóbulos vermelhos] de Armstrong desceu de 43% para 38,2%; o mesmo acontecendo à hemoglobina [proteína que "agarra" o oxigénio nos pulmões e o "liberta" nas células] que baixou de 14,8% para 13%. No Tour, aconteceu exactamente o contrário, ou seja, Armstrong começou com um hematócrito de 42,8%, passando a ter 43% a meio da corrida e 43,1% na última etapa. Em termos de hemoglobina, passou-se exactamente a mesma coisa, tendo 14,3% no início, 14,4% no meio e 14,5% no final da prova".
Quando confrontado com a pergunta sobre o "arriscar" de Armstrong, especialmente depois deste dizer que queria "vencer o Tour sem qualquer suspeita" e aprovar "sem qualquer tipo de reservas", o passaporte biológico (método indirecto de detecção de doping), Morkeberg respondeu dizendo que "a diarreia e a desidratação podem provocar desvios nos padrões sanguineos, mas nós não vimos Armstrong queixar-se disso. Eu não estou a dizer o ciclista se dopou, só estou a dizer que actualmente as transfusões sanguíneas do próprio atleta são um método de doping muito atractivo e quase infalível, pois não há maneira de o detectar".
Já o francês Gerad Dine, hematólogo e especialista na luta contra o doping, não é tão incisivo como o seu colega de profissão dinamarquês.
Ao site 20 minutes, Dine revelou que "a única coisa que se pode dizer é que os resultados das análises que fizemos aos padrões sanguíneos de Armstrong são muito curiosos. Mas é preciso ir mais longe para ver se houve ou não doping; temos que saber em que momento é que foram tiradas as análises, quem as pôs na Internet, quanto tempo passou entre a recolha e a análise do sangue e muitas outras coisas, pois podemos estar perante um caso de doping ou à frente de coisa nenhuma".
Dine disse ainda que "normalmente, em termos fisiológicos, o hematócrito e a hemoglobina baixam progressivamente ao longo de uma prova ciclística, mas também podem aumentar devido a desidratação, problemas renais, perda importante de líquido por via urinária ou digestiva, como por exemplo, vómitos, ou até uma manipulação dos valores por parte de quem os pôs na Internet. No meio de tudo isto uma coisa é certa, os valores do padrão sanguíneo de Armstrong, apresentados no site deste, não são normais".
O cientista francês afirmou também que os dados hematológicos do ciclista americano "não são uma prova de doping", mas sim "uma anomalia curiosa, dificilmente explicável do ponto de vista fisiológico, o que pode levar as suspeições graves".
Dine concluiu dizendo que, ao contrário do que tem sido noticiado na imprensa americana, "Morkeberg não é um cientista louco, é uma hematólogo competente, licenciado pela melhor escola dinamarquesa de hematologia e que analisa problemas de doping com EPO e transfusões sanguíneas há muito tempo".
Lance Armstrong também já reagiu às acusações escrevendo apenas na sua página do Twitter a frase "How do I say f*** in Danish?" (Como eu que eu digo f**** em dinamarquês?).
Jornalista: João Miguel Pereira
sábado, setembro 05, 2009
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